O Pescador e o Executivo

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O pescador só precisou de quatro “por quês” para desmontar todo o brilhante raciocínio matemático, econômico e estratégico do executivo. Será que nossa empresa e nossas vidas também não são saturadas de brilhantes raciocínios matemáticos, econômicos e estratégicos, mas que, contudo, carecem de por quês?

Por Maria Angélica Castellani

Um experiente pescador estava pescando com uma vara em sua canoa, quando foi abordado por um executivo em uma lancha.

– O senhor pesca há muito tempo? – perguntou o executivo. Sim, toda a minha vida disse o pescador.

– Então o senhor conhece tudo sobre pesca. Quantos peixes o senhor pesca por dia? – Perguntou o executivo.

– Eu saio bem cedo e fico algumas horas no mar. Pego uns 10. É o suficiente para alimentar a minha família, vender alguns e ainda sobra tempo para cuidar de uma horta, brincar com meus filhos e conversar com meus amigos . . .

– Poxa, mas com todo esse conhecimento se ficasse o dia inteiro e usasse uma rede, o senhor poderia pescar mais de 100 peixes.

– Mas por que eu deveria pescar mais de 100 peixes?

– O senhor venderia mais, ganharia mais dinheiro e poderia comprar um barco maior e mais potente.

– Mas por que eu deveria ter um barco maior e mais potente?

– O senhor poderia percorrer uma área muito maior, ter mais espaço para armazenagem e contratar outros pescadores para ajudá-lo. Assim, pescaria tanto que em breve poderia abrir uma indústria.

– Mas, por que eu deveria abrir uma indústria?

– O senhor poderia embalar seu pescado, embalar a vácuo, exportar para o mundo, crescer economicamente e ficar muito rico.

– Mas, por que eu deveria crescer economicamente e ficar muito rico?

– Assim, o senhor poderia comprar muitas coisas, fazer o que quisesse e ter uma vida tranquila.

– O pescador parou, pensou, sorriu e comentou com o executivo:

– Desculpe-me senhor, agradeço a sugestão mas ela no me parece muito lógica. Acho que não percebeu, mas eu já tenho as coisas de que preciso, já estou fazendo o que eu quero e minha vida já é tranquila. Hoje, meu único problema é sua lancha, que está espantando os peixes que vim pescar.

Esta fábula mostra de certa forma a realidade das muitas pessoas, sempre correndo atrás de crescimento econômico,  bens, estratégia de domínio, poder e controle. Como se algum dia essas coisas serão suficientes para vivermos bem.

O pescador só precisou  de quatro “por quês” para desmontar todo o brilhante raciocínio matemático, econômico e estratégico do executivo. Será que nossa empresa e nossas vidas também não são saturadas de brilhantes raciocínios matemáticos, econômicos e estratégicos, mas que, contudo, carecem de por quês?

Será que se buscamos respostas para alguns “por quês”, a maneira que organizamos o nosso trabalho, e até mesmo a razão de trabalharmos, ainda farão sentido para nós?

Será que as empresas e o trabalho não poderiam ser pensados sob a ótica do pescador? Ou seja, como uma fonte de qualidade de vida e felicidade para as pessoas,  ao invés de pensados e desenhados sob a ótica do “executivo”, ou seja, como instrumentos de crescimento econômico?

E quem sabe se pensarmos e desenharmos as empresas sob a ótica do “pescador”, nós estaremos descobrindo a tão desejada fórmula da retenção, ou seja, do compromisso das pessoas com as nossas empresas.

Você tem alguns por quês para responder? . . .

Fonte: Livro O2 – Organizações orgânicas de Renan Carvalho.

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