Por Maria Angélica Castellani
Quem disse que a gestão de projetos é difícil?
Eu nunca pensei nisso. Sempre procurei seguir as instruções dos diferentes frameworks e nunca teve grandes problemas com o processo, ou o método, se for o caso.
Fazer levantamento com os stakeholders? você precisa saber de técnicas de comunicação.
Fazer análise de requisitos? você precisa ter uma boa lógica, saber de técnicas de comunicação e de levantamento de requisitos.
Planejar? Você precisa ter método e conhecer algum framework para se basear.
Colocar gente para a execução do seu projeto? Você precisa conhecer de psicologia, ter calma, inteligência emocional, saber ouvir, saber de administração de conflitos, saber incentivar a criatividade e auto-motivação no seu time, e além disso ter sorte, e as vezes muita, muita sorte.
Brincadeira aparte, penso que precisa de um pouquinho de tudo isso. Embora a arte da gestão de projetos é aplicar a ciência para alcançar os resultados desejados, muitos dos problemas que encontramos se repetem constantemente, e ainda assim as soluções sempre parecem uma “missão impossível” quando envolvem pessoas.
Quando combinamos essa ciência e as pessoas envolvidas, podemos nos deparar com algumas armadilhas para as que você deverá estar preparado.
1 – Falta de autoridade.
A maioria dos projetos atravessa os limites interfuncionais dentro de uma organização. Você precisa pedir às pessoas para realizar o trabalho e você não tem a suficiente autoridade sobre elas, porque elas pertencem a outro departamento, cujo gerente funcional não se considera envolvido no projeto.
O que deve fazer?
- No kick off do projeto, deverão participar todos os gerentes funcionais envolvidos, para ficar informados sobre o projeto.
- Deverá constar na declaração de escopo a responsabilidade no projeto, dos gerentes funcionais. Poderá se incluir como premissa. Todos deverão assinar a declaração de escopo.
- O item anterior poderá ser mais detalhado no plano de gerenciamento de recursos humanos, no plano de gerenciamento da qualidade (se for o caso) e no plano de gerenciamento das comunicações.
- O patrocinador do projeto deverá reforçar todos estas dependências na reunião do Kick off.
2 – O problema dos 90%
Você conhece a síndrome dos 90%?
Estou quase acabando ….. Tenho quase 90% pronto!
E isso mesmo pode acontecer durante uma ou duas semanas…. Muitas vezes os últimos 10% podem levar mais tempo que os primeiros 90% por causa de problemas não resolvidos, que não ficaram claros, ou não foram compreendidos ou simplesmente porque eram desconhecidos.
A verdade poderá ser revelada tardiamente e colocará você em situações constrangedoras, quando outras atividades sofrerem as consequências. Se o cronograma precisa ser revisto você deve saber o mais cedo possível para poder fazer um replanejamento.
O que deve fazer?
- Ajude as pessoas a contar a realidade.
- Gere ambientes de confiança mútua.
- Promova a transparência e honestidade na comunicação.
3 – Apagando incêndios
Lembre-se que sempre poderá encontrar “incendiários” dispostos a tentar fazer seu projeto sair dos trilhos, e essas pessoas geralmente consideram que o planejamento detalhado é uma perda de tempo. O caos poderá se instalar facilmente, fazendo subir os custos. O planejamento eficaz e o bom monitoramento limitam os incêndios a pequenos focos e mantêm os custos sob controle.
O que deve fazer?
- Não confie nos outros para administrar seu orçamento, essa é uma tarefa que você deve considerar prioritária.
- Certifique-se de fazer uma definição clara das responsabilidades e compromissos dos envolvidos, evitando assim o retrabalho.
- Promova a comunicação constante na sua equipe incentivando a geração de alertas imediatas para evitar o descontrole dos custos.
- Monitore a saúde do controle integrado de mudanças, envolva a sua equipe, capacite e verifique a existência de uma comunicação clara e transparente.
4 – As pessoas certas
Você não desconfia quando um gerente funcional oferece com entusiasmo um novo integrante da equipe dele para seu projeto? Formar uma equipe de pessoas entusiastas é uma grande motivação, mas você já verificou a experiência e conhecimento dela?
O entusiasmo não deve ser um substituto da experiência e conhecimento. Você deve contar com pessoas com o conhecimento e a preparação necessários para as atividades do seu projeto. Dizer para o gerente funcional que a pessoa oferecida não atende os requisitos não é nada fácil e coloca você no ambiente político da organização.
O que deve fazer?
- Comunicar por escrito o perfil e experiência da pessoa que precisa.
- Conversar diretamente com o gerente funcional sobre as suas necessidades e verificar a disponibilidade de pessoas para seu time.
- Documentar na declaração de escopo e no planejamento de recursos humanos.
- Verificar com o departamento de Recursos Humanos antecedentes da pessoa em questão.
- Verificar com a pessoa disponibilizada seu real interesse de trabalhar no projeto e alinhar com ela sobre os conhecimentos e experiência que você precisa.
4 – A missão impossível
Não é comum que os gerentes de projetos incorporem mais tarefas em um projeto do que realmente é necessário para alcançar seus objetivos. Mas entrar em um projeto com objetivos, orçamento e prazos irreais poderá levar você a tentar alcançar o impossível.
O que deve fazer?
- Evite sempre começar um projeto dessa natureza, mesmo que exista pressão dos seus superiores.
- Realize uma cuidadosa avaliação dos riscos para destacar aqueles inaceitáveis e os de alto custo envolvidos.
- Realize uma revisão do escopo com seu sponsor e mostre seus argumentos que fazem ele inviável.
- Você será o responsável pelos resultados, portanto evite gastar o dinheiro com um projeto impossível.
Conclusão
Se você não sabe voar, não tente alcançar o impossível e não tenha temor de admitir uma derrota qualificada e fundamentada.
Espero ter ajudado!
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Bibliografia:
Fundamentos da Gestão de Projetos, Carvalho, Rabecchini, Jr.
Gestão de Projetos. Harold Kerzner
Manual de Gerenciamento de Projetos. T. L. Young
Sobre o Autor:
Maria Angélica Castellani, PMP, CSM, CSD. Formada em Computação Científica pela Universidade Nacional de La Plata, Argentina, com MBA em Gerenciamento de Projetos e MBA em Negócios Internacionais, ambas pela FGV. Especialista em Change Management e em Gestão Estratégica do Conhecimento. Atua há mais de 20 anos em gerenciamento de projetos, melhoria de processos e implantação de PMO. É sócia diretora da empresa FIXE Consulting & Training desde 1999. Palestrante nacional e internacional (Mercosul). Professora de Gestão de Projetos em várias Instituições. Gerente Voluntária do Programa da Revista Eletrônica do PMI-SP (e-news), desde 2008. Co-autora do Livro Gestão de Projetos: Teoria, Prática e Tendências da Editora Elsevier, publicado em outubro de 2014.
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1 comentário em “5 Armadilhas da Gestão de Projetos que você deve saber”
Considero um artigo interessante, quebra a inércia e põe a pessoa em movimento. Faz ganhar a convicção de poder fazer aquilo que sempre sonhou e teve dificuldades de iniciar.
Parabéns e gostaria de trocar endereço contigo porque gosto de aprender.
Cordeais Saudações
Moçambique – C F. Zandamela